Era uma vez, um rapaz chamado Francisco, apelidado de Chico, que vivia bem no interior de Minas Gerais. Nos seus 30 anos, jamais tinha deixado a roça. Gostava da vida pacata e tranquila e não tinha qualquer ambição de se mudar para a cidade grande. Vida boa esta do Chico!
Ocorre, porém, que a força do destino tornou inevitável sua viagem para o Rio de Janeiro: era o casamento de Antônio, um velho amigo de infância. Levantou-se bem cedo, tomou um banho e preparou sua melhor roupa para não fazer feio: calça de boca larga, camisa xadrez e uma botina que lhe fora doada por um velho sargento da reserva. O chapéu de palha, este ele deixou para trás, pois alguém lhe disse que na cidade não se usava isso.
Quando chegou à estação, pela primeira vez na vida, Chico viu uma estrada de ferro. Ele achou que as pessoas caminhavam sobre aqueles trilhos, parando, de vez em quando, nas estações para descansar.
Seus pensamentos foram interrompidos pelo barulho ensurdecedor da locomotiva. Chico saiu desesperado e só parou de correr quando estava no alto de um monte próximo. Por detrás de uma árvore, viu aquele “monstro de aço” fumegando vapor. Seu corpo tremia de cima a baixo.
O trem partiu e o Chico ficou. Jamais iria “num troço daqueles”. Ele chegou ao Rio na carona de um caminhão de leite.
Ao andar pelas ruas buscando um presente para os noivos, viu na vitrine de uma loja de brinquedos um trenzinho elétrico que corria velozmente pelos trilhos de uma minúscula via férrea.
Num acesso de fúria, Chico passou a mão no primeiro pedaço de madeira que viu e destruiu todo o brinquedo. Assustado, o dono da loja correu para detê-lo, mas era tarde.
“Essa praga a gente tem que matá enquanto tá pequena assim. Dispois qui cresce, não há um que dê conta!”, respondeu o simplório mineiro.
Na sua ingenuidade, Chico deixou uma lição. O pecado é assim: nasce pequenino e vai crescendo até tomar conta de tudo. Nunca nenhum alcoólatra, por exemplo, começou a se embriagar logo na primeira vez. Foi uma cervejinha aqui, outra lá; uma para esquecer, outra só para comemorar; para refrescar... Então, o vício cresceu e tomou conta.
Sabe, amigo leitor, é preferível ser uma pessoa simples, à semelhança do Chico Mineiro, mas com o coração puro, a ser alguém muito importante, mas dominado pelo pecado, seja ele qual for.